21 de janeiro de 2012

Texto: O dia de hoje

Na mesa ao canto do café mais empoeirado, conto as gotas que escorrem sem parar pela parede.
Ao meu lado existe uma grande e frágil porta de vidro. De alguma forma, naquele momento, ela é a coisa mais familiar que eu tenho perto de mim. As coisas que temos em comum, o modo como ela é pura e transparente me revertem a um passado de angústias. Quando qualquer um entrava na minha vida sem dó de bater a porta na hora de sair.
O cheiro de tempestade atravessa os quatros cantos do café deixando por onde passa um ar contaminado de esperança e nostalgia. 
Um dia sem falsidade, sem o sol dando boas-vindas quando ele só quer se esconder atrás de qualquer montanha que sustente a sua imensidão e o seu esplendor.
Na minha cabeça passa tudo e não passa nada ao mesmo tempo. Tenho um monte de imagens, mas como montar um imenso quebra-cabeça com peças sem foque?
O barulho do café derramado de uma chaleira velha se faz ao mesmo tempo que a porta de entrada do café se abre. A fumaça do líquido preto dentro da xícara esconde a verdadeira pessoa que a bebe. Talvez o que atraia mais nessa bebida não seja a forma inacreditável que ela te deixa sem dormir três dias seguidos e sim a forma com que ela pode esconder histórias inacreditáveis de um jeito único.
A menina que acabou de entrar deixando o ar mais vivo se torna de repente uma pessoa quieta e entretida apenas em seu celular e em sua xícara de café com adoçante.
A tempestade pode trazer uma pessoa e o café pode transformá-la em algo totalmente diferente.
Volto a minha atenção para a brisa vinda de algum vento perdido no meio de tanta água. Ela me ampara e me faz ir, ir e ir, sem importar a distância, eu apenas vou flutuando seguindo seus caminhos...
Assim que a vida acaba para mim, em um dia de chuva, vento, trovões e relâmpagos. Assim que a vida devia acabar para todos.
No final o que importa não são as horas e sim o tempo que a próxima nuvem carregada pousará sobre as nossas cabeças. Os dias não deviam ser contados com o girar de um relógio e sim com o começar e o parar de uma imensa tempestade.
Memórias De Um Dia Que Ficou Marcado

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